Porque nos interessa o presente e futuo da nossa modalidade publicamos aqui uma artigo de opinião de Miguel Pedro Araujo editado no Jornal Record e em que se fala do actual estado de coisas no basquetebol nacional:
"O basquetebol, que foi considerado, durante vários anos, como a segunda modalidade desportiva nacional, vê-se hoje ultrapassado ou equiparado ao andebol, voleibol e, mais recentemente, ao futsal.
Mesmo para quem, desde há cerca de dois anos e meio, já só acompanha a modalidade “via sofá”, parece notório que o basquetebol carece de uma importante reflexão e renovação.
E os sintomas são vários: a começar pela sua estrutura federativa e profissional, pelo papel e responsabilidades da escola nacional e associação nacional de treinadores, pela diminuição de adeptos (e praticantes) da modalidade, pela “conflitualidade” entre liga profissional e proliga, pela falta de visibilidade mediática da modalidade (a não transmissão de jogos em canal aberto de televisão ou a cada vez mais reduzida relevância na imprensa desportiva ou generalista). Mas também a nível competitivo. Portugal esteve presente em Espanha no Euro2007 com um honroso e interessante nono lugar o que poderia fazer prever uma alteração significativa na projecção da modalidade.
No entanto, a passagem pelo Euro2011, em Setembro passado, na Lituânia deixou uma imagem paupérrima, apesar de ser louvável o esforço e sentido de responsabilidade demonstrado pelos jogadores e equipa técnica (liderada por Mário Palma). Mas a verdade, tal como refere o técnico nacional, há várias questões que importa abordar e que são importantes para se poder questionar esta realidade menos positiva da modalidade. Mário Palma, na conferência de imprensa após a derrota frente à selecção inglesa, afirmava aos jornalistas que a prestação da selecção nacional poderia ter sido outra se a experiência internacional das equipas nacionais e dos jogadores portugueses fosse outra.
E o facto é que hoje nós temos uma modalidade de consumo meramente interno, e mesmo esse, se afigura débil e desajustado.
Fui, desde os tempos que assumi funções de director para a formação na Associação de Basquetebol de Aveiro, nos anos de 1995 e 1996, muito cítico em relação à criação de uma liga profissional de basquetebol. Por várias razões que se prendem com a inconstante solidez da modalidade, as deficientes estruturas e sustentabilidades dos clubes, o nível competitivo e desportivo do basquetebol nacional. A par disso, há ainda a não menos importante, se não a maior, questão do excesso de jogadores estrangeiros em detrimento da evolução desportiva e competitiva dos jogadores nacionais. Mas esta não é por si só uma questão linear. Se em muitas competições da europa existe a limitação à contratação de jogadores não europeus, a verdade é que a limitação, por exemplo a dois jogadores não europeus, só abrirá as portas à entrada nos clubes portugueses de um maior números de atletas comunitários, inviabilizando qualquer progressão competitiva dos atletas nacionais.
E antes de se questionar ou criticar o excessivo número de estrangeiros nos cinco iniciais (para não dizer na maioria dos convocados para cada jogo) há que questionar o valor, profissionalismo e a aptidão dos jogadores nacionais.
Não passa por uma mera crítica avulsa e fútil. Passa por questionar a estruturação, a forma, o papel, os objectivos da formação, no basquetebol nacional.
E são inúmeras as interrogações que podemos colocar, penso que de forma legitima, e que poderão levar a alguma reflexão e sentido crítico: mesmo nos escalões mais baixos (em termos de idade e aprendizagem) não haverá preocupação competitiva a mais ou em exagero?! Será que a formação é valorizada no contexto global da modalidade?! Não é apenas nos escalões séniores e profissionais que há o reconhecimento do trabalho, valorizando-se as estruturas e os esforços/recursos dos clubes, e as equipas técnicas?! A título de exemplo, porque é que o trabalho de um treinador da formação há-de ser menos valorizado, menos importante, que o de um escalão sénior?! Quantas vezes foi mencionado num currículo desportivo de um atleta os nomes dos treinadores que intervieram no processo formativo?! Porque é que as condições de trabalho na formação (espaços, equipamentos, horários, transportes, recursos humanos) são consideravelmente diminutas em relação aos seniores?!
Enquanto a aposta do basquetebol não for na sua sustentabilidade, no garante do seu futuro desportivo através de uma formação eficiente e eficaz, estaremos a perder “terreno”, relevo e atletas para modalidades que se estão a tornar muito mais apelativas e competitivas a nível nacional e europeu.
O que a modalidade precisa é de uma “pressão a campo inteiro” que a obrigue a repensar estratégias e objectivos."
MIGUEL PEDRO ARAÚJO - JORNAL RECORD
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